Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

19 setembro 2009

O Senhor sustenta a minha vida (partilha)

Esta é a partilha que vou fazer este Domingo nas novas comunidades onde farei estágio pastoral. Pode ser que ajude aqueles que o lerem, mais que não seja a que possam rezar por mim, em mais uma etapa.
Este Domingo a Palavra de Deus que nos é proposta coloca frente a frente dois modos de proceder: o dos ímpios e o dos justos. Há os que vivem na rectidão, na paz, que procedem com misericórdia. E há os que pensam em invejas, rivalidades, conflitos e toda a espécie de más acções. No seu caminho estes últimos, os ímpios, encontram o justo, que até pela sua vida é uma reprovação viva do seu modo de proceder. Jesus, no Evangelho, não cria distinções. Fala daqueles que acolhem, sem olhar às dificuldades em O compreenderem e O seguirem, mesmo deixando entender, até pelas narrações anteriores de Marcos, que também fala para os que O não recebem.
Na primeira leitura do livro da Sabedoria, de acordo com o seu estilo, quer-nos fazer compreender uma lição essencial: a incompatibilidade entre os dois modos de vida, gerando dificuldades inevitáveis para o que quer viver segundo a Lei de Deus. A leitura de hoje não pode ser isolada do contexto e até do capítulo em que se integra cuja mensagem essencial é «Deus não quer a morte, a justiça é imortal». Pelo seu modo de vida, pela lembrança das suas convicções, o justo torna-se para os ímpios uma censura permanente. Daí a atitude dos ímpios: a melhor maneira para se tranquilizarem é eliminá-lo. Na Paixão de Cristo isto deixa de ser apenas uma lição de moral, para se converter numa realidade inscrita no coração da história humana. Não se tratam apenas de aspectos materiais: ultrajes, tormentos, condenação à morte… São também todos os acontecimentos que, pouco a pouco, se vão acumulando no decorrer dos factos. A Paixão dele é de facto a paixão do justo que nos descreve o livro da Sabedoria. Junto à cruz evoca-se isto mesmo, quando, na narração de Lucas, o centurião que O trespassa exclama «de facto, este homem era um justo». Nouvelle du salut annoncée aux hommes par JésusAttitude qui incite à l'indulgence et au pardon.
Tudo isto nos diz respeito. E de que maneira. A carta de S. Tiago retoma estas duas formas de vida: a da justiça em Cristo Jesus, e a que, independentemente das aparências, será o reverso da medalha, fonte de conflitos e da morte. «Cobiçais e nada conseguis: então assassinais. Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras. Nada tendes, porque nada pedis.» É uma passagem realista. De facto somos nós, homens e mulheres, que destruímos, e que criamos os sofrimentos, as desigualdades, as guerras. «Pedis e não recebeis, porque pedis mal, pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.» Ao contrário, a Sabedoria que vem de Deus e antes de mais rectidão, e consequentemente, paz fecunda. «Ela dá o seu fruto aos que fazem a paz.» Diz uma passagem do sermão da Montanha: «Felizes os que fazem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus». Cabe-nos então a nós acolher o Filho do Homem, em toda a sua verdade e realidade, que inclui a sua paixão e morte, para partilharmos na Ressurreição a vida divina Daquele que no-la enviou. A explicação dada aos apóstolos, por Jesus no Evangelho, quer iluminar a sua incompreensão que não é senão um reflexo da impiedade que a todos nos habita. O silêncio no qual eles se fecham vem do medo que têm em Lhe perguntar o sentido daquilo que o Mestre afirmara.
A realidade e a proposta que Jesus nos apresenta são diferentes daquelas que poderia vislumbrar o autor do livro da Sabedoria, algumas dezenas de anos antes. Jesus é rejeitado por outros motivos. Em primeiro lugar por ser um incómodo, por trazer ao de cima a verdade. Uma verdade que faz tremer o círculo em que se fechara o ímpio. «A verdade vos fará livres». Depois, ele não é apenas um justo no meio dos justos, com uma personalidade interessante. Também não é apenas a consciência dos que andam dispersos. Como Messias, Ele é provocante de outra forma. Reune o Povo de Deus sobre o próprio Deus. Os seus adversários não são ingénuos quando o apresentam a Pilatos como alguém que ameaça a autoridade civil, embora ele não lhe encontrasse qualquer culpa, e soubesse que não era esse o motivo pelo qual o queriam condenar. Mas o medo de uns e de outros gera a condenação à morte. A pretensão de Jesus é mais radical que uma pretensão política ou social, qualquer que seja. Ele não é apenas um filho como todos os membros do povo de Deus. Ele é o Filho, o Único. E isto é que os que estavam acomodados à ordem estabelecida não podiam tolerar. A questão central é simplesmente esta: «Diz-nos, pelo Deus vivo, és tu o Cristo-Messias, o Filho de Deus?» «Deus chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.» Se no fim, é Deus quem nos acolhe, é preciso já, acolhermos, nós, Aquele que Ele enviou. Pelo exemplo de Jesus, que toma nos seus braços uma criança, como sinal deste acolhimento, Ele quer-nos recordar que temos de acolhê-LO, nos mais pequenos, não apenas as crianças, mas nos pequenos aos olhos do mundo, mas afinal em quem Ele vem ao nosso encontro: em quem quer que se encontre na miséria, na pobreza, na fome, na solidão.
Falando em quem vem ao nosso encontro, esperais naturalmente que vos diga quem sou, e alguma coisa do que fiz e do que farei no meio de vós. Peço a vossa boa-vontade para escutardes. Quiseram chamar-me Rui ainda antes de ter nascido prematuro a 6 de Junho de 1986 na maternidade do Penedo da Saudade, em Coimbra. Filho mais novo da família, sou natural do Penedo da Sé, paróquia do Marmeleiro, concelho da Guarda, paróquia onde me baptizaram a 10 de Agosto do mesmo ano, e onde faria a caminhada normal de catequese, sacramentos, escola primária, até em Setembro de 1995 iniciar a caminhada de Seminário, no menor da nossa diocese, no Fundão. Entrei para o Seminário movido pelo exemplo do meu pároco, entretanto falecido, mas de que me marcou profundamente na minha imagem do sacerdócio. No Fundão passei os 5 anos do ensino básico. Em 2000 transitei para o Seminário Maior, na Guarda, onde fiz o ensino secundário e os dois primeiros anos do Curso de Teologia. Em 2005 interrompi o percurso de seminário, para ir frequentar o 3º ano do curso de licenciatura em Teologia na Faculdade de Teologia da UCP – Porto, onde transitaria para o Mestrado Integrado em Teologia. Regressei à Diocese em Setembro de 2006, a partir de quando comecei um semestre de trabalho pastoral, de acordo com as orientações do Senhor Bispo e do Reitor do Seminário, em três locais distintos: as Paróquias da Guarda (Sé e S. Vicente), confiadas aos Rev.dos Padres António Moiteiro e José Dionísio; a Equipa de Pastoral da Casa de Saude Bento Menni, sob a direcção da Ir. Alice Roseiro; e na Cáritas Diocesana. No 2º semestre desse ano lectivo recomecei as aulas no ISTBD, em Viseu, a frequentar o 4º ano de Teologia, onde estive até ao mês de Junho passado. Pastoralmente passei, mais tarde, a colaborar com o Pe. António Morais, em Gouveia, Folgosinho, Nabais, Freixo da Serra em 2007/2008, e no último ano também em Melo, até Julho passado. Em 2008/09 frequentei o Ano pastoral no mesmo instituto, acumulando a frequência do Mestrado na Faculdade de Teologia da UCP-Braga, onde sob a orientação do Prof. Doutor João Duque, me encontro ainda a realizar a tese sob o tema «o discurso sobre Deus na Teologia feminista de E. Johnson». Recebi no dia 8 de Dezembro o ministério de Leitor, e em 27 de Junho o ministério de Acólito.
Em Julho deste ano o Senhor Bispo pediu-me que realizasse o estágio pastoral junto do Pe. João Barroso, nas cinco comunidades paroquiais que lhe estão confiadas e no Dep D. Infância e Adolescência do SDEC. Entre outros serviços que o senhor padre ainda me há-de pedir, ocupam-me o tempo as aulas de EMRC na Escola EB2/3 de Loriga, e a organização da catequese paroquial. Encontro-me portanto num percurso em ordem ao sacerdócio, ao qual desde cedo me senti chamado, e que se Deus quiser hei-de abraçar num futuro não muito distante. Quisera servir-me das palavras do Evangelho de hoje, que é bastante sugestivo, no que diz respeito a como me apresento no meio de vós: apresento-me como o último de entre vós, e o servo de todos. Ajudai-me a caminhar, sobretudo com a vossa oração. Quem quer seguir Jesus tem de mudar a mentalidade, os esquemas de pensamento, os valores egoístas e abrir o coração à vontade de Deus, às propostas de Deus, aos desafios de Deus. Para poder exclamar com o salmista : “O Senhor sustenta a minha vida”. Mais do que um desafio que coloco a mim mesmo, é o desafio que a palavra de Deus hoje nos deixa a todos. Saibamos nós, de coração agradecido, deixar que o Senhor seja o sustento da nossa vida.