Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

27 março 2007

Uma pequena homenagem...

Bem sei que atrasada, pois o nascimento que quero comemorar ocorreu no dia 22, mas quero agora publicar o que então escrevi.

Mais do que julgas conhecer,
Amor maior não irás encontrar e,
Revendo em ti a imagem dele,
Tu és, pequeno ao nascer,
Igual na grandeza para amar,
Maior, certamente, para viver...
Benvindo pequeno!!!

Então não haverá barreiras

Uma experiência só por si não vale nada. Vale por aquilo que fazemos depois com ela. Um homem não vale apenas por aquilo que diz, vale por aquilo que faz do que diz, ou por aquilo que diz poder levar outros a fazer algo. Posso experimentar a solidão, mas se não me levar a valorizar o convívio... de nada me serve. Posso desenvolver uma brilhante teoria, mas se ela não me ajuda nem a mim, nem a outrém, são coisas que, embora inusitadas, podem ser dispensáveis... Na verdade, de que me serve experimentar amar alguém, se esse amor não me leva ao amor de Deus?! Ao pensar nisto, recordo uma leitura que fiz, e da qual guardei o seguinte pensamento: "Se Deus é amor, então a caridade não deve ter fronteiras, porque para Deus não há barreiras". Nada de novo, é certo. Mas como é difícil este viver numa dimensão que a pouco e pouco nos conforma de tal modo a Deus, que nos leva a esvaziar do nosso próprio amor, para que em nós não haja senão Amor, amor de Deus, que passa a amar em nós. E este Deus que passa a amar em nós, sem dúvida nenhuma é o mesmo Deus que na cruz, como recorda o Papa, ama de tal forma, que chega a voltar-se contra Si mesmo (Deus caritas est, n.º12). É um amor radical este, daquele que dá a vida pelos amigos, aquele do que o qual ninguém tem maior amor. De facto, quanto mais se reflecte neste amor, mais se sente a distância que separa ainda o nosso coração de ser despojado do nosso amor próprio, para ser preenchido com o amor de Deus, e cada acto de amor, que passamos a realizar, é um acto de amor do próprio Deus. Penso que seria um verdadeiro sacramento este... Que maravilhoso haveria de ser, este amor sem distinção e sem barreiras... estas barreiras que a humanidade, que cada um, que eu crio... Sem o esforço da conquista, é impossível a alegria quando se atinge a meta, e quero acreditar que tudo o que vai acontecendo, é em ordem a uma Alegria que não terá fim, a um Bem maior que tudo, a um Amor que tudo preencherá, que tudo transformará e tudo saciará. Fico extasiado de alegria ao pensar nisto. Espero que possa ter ajudado alguém a alegrar-se também. Afinal, todos nós somos seres animados pensantes!!!

23 março 2007

Teologia Hoje: XXI ENET



Este é um artigo que foi enviado ao jornal "A Guarda", mas que não pode ser publicado na íntegra. Como acho pertinentes algumas das afirmações, que no entanto não puderam ser publicadas, optei por divulgá-lo aqui.




Decorreu durante os dias 16, 17 e 18 de Março, no Porto, o XXI ENET, organizado pela FNAET (Federação Nacional das Associações de Estudantes de Teologia) e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia do Porto. Sob o tema “Teologia hoje. O papel das religiões na paz mundial”. Foram conferentes o senhor Cardeal Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para Causas dos Santos, o Prof. Santiago Guerra, ocd, do Centro Internacional Teresiano Sanjuanista (Ávila, Espanha), o Doutor António Couto, smbn, da Faculdade de Teologia da U.C.P. (Porto), e a Prof. Doutora Maria do Céu Pinto, da Universidade do Minho.
O senhor Cardeal, que proferiu a lição de sapiência do encontro, falou-nos sob o tema “O papel das religiões na paz mundial”. D. José Saraiva Martins percorreu num primeiro momento aquilo que ele mesmo apelidou como “um complexo problema histórico”, passando à análise da situação actual, sob o horizonte socio-cultural e económico. Apresentou algumas indicações práticas, nomeadamente uma antropologia que encarasse “a pessoa humana, como coração da paz”, bem assim como o ”terrorismo zero” e o justo discernimento acerca da guerra, que “nunca pode ser caminho da paz”. Terminou apresentando o que ele mesmo apelidou de “decálogo das religiões para a paz”, sublinhando o carácter pacífico de todas as religiões. Para completar o primeiro dia do ENET, actuaram para os presentes alguns dos elementos da Tuna Masculina da UCP (Porto).
O segundo dia, depois da oração de Laudes e Eucaristia, continuou com a primeira conferência, pelo professor Santiago Guerra, sob o tema “A mística cristã no diálogo inter-religioso. Sta. Teresa de Jesus e S. João da Cruz”. A sua conferência centrou-se inicialmente nas religiões orientais, concretamente no hinduísmo, para a apresentar como ponto de referência na mística, cuja concepção se centra numa mística que é “de per si” “libertação da existência”. Da apresentação dos dois caminhos da mística oriental, o caminho do conhecimento e o caminho do amor, estabeleceu a ponte para o diálogo inter-religioso, pela concretização de exemplos de afinidade entre a mística carmelita e a mística oriental. O último ponto centrou-se na “oferta” de diálogo a partir da mística carmelita, passando por S. João da Cruz, Sta. Teresa e Sta. Teresinha. Concluiu a apresentação do tema, falando daquilo que considera ser a relação entre mística e diálogo inter-religioso, ou seja “uma dissonância harmoniosa, em vez de uma harmonia dissonante”. Na conclusão desta conferência, e como intervalo lúdico da manhã, o Grupo de Jovens da Igreja Stella Maris, dos Padres Carmelitas Descalços, executou para nós algumas poesias musicadas da autoria de S. João da Cruz, Sta. Teresa e de Sta. Teresinha. Ainda durante a manhã, conferenciou o Doutor António Couto, sob o tema “Olho por olho, dente por dente?”, apresentando além do que dimana do Texto Sagrado, as suas origens no Código de Hamurabi, a própria concepção do povo hebreu, culminando na “proposta revolucionária” de Jesus, acerca do perdão.
“Diálogo inter-religioso Cristianismo-Islão. As dificuldades no relacionamento na conjuntura actual” foi o tema da apresentação que nos fez a Prof. Doutora Maria do Céu Pinto, da UM. Sumariamente referiu os pontos de convergência entre cristianismo e Islão, nomeadamente o monoteísmo e Jesus, ou “Issa”, como uma grande figura entre os muçulmanos. Depois reportou-nos os diferentes pontos de divergência, desde a Trindade, inaceitável para o Islão, como ponto mais divergente entre cristãos e muçulmanos, até ao estatuto dos crentes de outras religiões no Islão. Ainda houve tempo durante a tarde para a apresentação das Escolas Teológicas presentes: Porto e Vila Real, Guarda, Viseu e Lamego. Estiveram também presentes no encontro as escolas de Braga e Coimbra. O dia terminou com um concerto de oração, com a Claudine Pinheiro, que integra o projecto dos Salesianos “Água Viva”.
O último dia de encontro teve o seu ponto alto na Eucaristia de Encerramento do ENET, na Sé Catedral do Porto, presidida pelo Director da FT (Porto), Cónego Doutor Jorge Teixeira da Cunha, e no almoço de encerramento e plenário realizados na Pousada da Juventude, também no Porto. Na homilia da Eucaristia, o director da FT que acolheu o XXI ENET, mais uma vez felicitou a organização e sublinhou o orgulho da Faculdade em ser a casa que acolheu e preparou este encontro. “Somos uma minoria, mas temos entre mãos uma grande tarefa e vocação, que é a de levar Deus aos Homens de hoje!” sublinhou. De facto os caminhos da teologia vivem momentos de incerteza a nível institucional, onde se debate a organização das escolas de teologia. E pese embora o problema de permanecer dispersos ou juntos, ou o da formação, ou não, a nível universitário, ou o carácter “pastoral” da teologia, cuja proximidade das pessoas a quem serve pode ser um ponto importante, “sem reunião de esforços não podemos ter qualidade”. E a qualidade é tornar a teologia a “alma pastoral”, o fundamento da competência dos ministros da Igreja, a preparação dos servidores do Povo de Deus e da sociedade, com a forma que o Espírito Santo vier a inspirar, “tornando-se o centro de uma espiritualidade feliz”.
Como em todos os ENET’s, o convívio, a formação, o estabelecer laços de amizade entre os alunos de todo o país, foi mais uma vez a marca deste encontro. O último tinha sido organizado na Guarda, e talvez por isso, depois da Escola organizadora, foi a escola que marcou presença em maior número. É pena, que neste encontro, como em todos os anteriores, nunca seja possível contar com a presença de todas as escolas teológicas do país. Pese embora esta fractura na FNAET, penso poder afirmar que este encontro foi reflexo e participação visível da comunidade de estudantes de teologia a nível nacional. Felicitações à Organização. Parabéns a todos nós que acolhemos o apelo e participamos no encontro. Que possamos contar com uma maior união entre escolas, optimizando este “pequeno grupo” de estudantes de teologia a nível nacional, para que possamos ser “sal da terra, e luz do mundo” (Mt 5, 13-16). Foi grata esta visita à “mui nobre e sempre leal cidade”, e agradecemos profundamente o empenho daqueles que organizaram o XXI ENET. Aguardamos certamente as Conclusões do encontro, e esperamos que possam mais escolas de teologia continuar a acolher este desafio que a comunidade de teólogos, através da FNAET continua lançar a todas, para que “activamente continue a manifestar da unidade de escolas, na diversidade que é por si promotora da identidade de cada escola académica”, como sublinhou o presidente da FNAET, Rui Mota Alves.

06 março 2007

Hão-de olhar para Aquele que trespassaram - a morte...

Hão-de olhar... Porquê? Talvez porque perdemos alguns sentidos da existência... Sem Ele perde sentido a vida, ou o seu termo, a morte.... ou o Tempo e a eternidade... penso que ninguém esquece este tema, no entanto parece que disfarçamos, ou que a sociedade disfarça o que nos faz passar para lá deste "cronos".
Nas palavras de J. L. L. Arauguren, fala-se da "morte iludida". Mas esta atitude apenas acontece porque se encara a morte como um um fim, como oposição à vida, que de certa forma a paralisa e lhe corroi as energias... Como não a podemos superar, nem tao pouco referir-nos àquela que será a nossa própria morte, reprimimos naturalmente o pensamento dela. Não podemos compreender nem entender a morte, mesmo à luz da teologia, se não for iluminados pela morte do próprio Filho de Deus. E mesmo da morte deste, apenas o Pai foi testemunha, de facto alguns o terão visto expirar, mas a morte em si, ultrapassou-os, como de resto nos ultrapassa a morte de alguém, mesmo ao nosso lado. Contudo e ao glorificar o Filho, Deus mostra-nos o que foi a morte do Seu Filho, e o que é para nós: a entrada na Sua verdadeira vida filial. Cabe dizer que uma importante chave de leitura aqui é a aceitação que Jesus tem da Sua morte com verdadeira liberdade. O MORRER-COM-CRISTO habita desde já cada cristão, dando a todos nós a possibilidade de desde já viver nesta tensão até que o morrer-com aconteça e nos torne verdadeiramente cristãos. De facto o que começamos no baptismo apenas encontra aqui o seu termo. A morte é assim o ponto de encontro de todos com Cristo. Na morte Ele está onde nós estamos (Kenose) e nós estamos onde Ele está.