Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

01 dezembro 2010

Independência

O domínio dos outros em nós irrita-nos. Gostamos de ter o controlo de tudo o que se passa. Sobretudo do que a nós diz respeito. Parece que não devemos a ninguém o leme da nossa vida, que vai seguindo, fustigada pelas ondas, levada por ventos, enfim… mas ninguém parece ter legitimidade para a dirigir. Os estrangeiros sobretudo. Os estranhos ao nosso círculo também. Claro que curiosamente a vida segue o seu rumo, onde nós por vezes até nos sentimos espectadores, incapazes de viver, ou preferindo ficar sentados a ver o filme que parece ter sido realizado por outros, e onde nem sequer o papel de actores nos deixam. E segue de tal forma, que quando nos decidimos a tomar-lhe as rédeas, a sentir nós mesmos esse ritmo galopante, vamos percebendo que a verdadeira independência está mais em estar com os outros do que sozinhos, em precisar dos outros do que sermos autónomos. Para os que temos fé, mais ou menos periclitante, isto tem um nome: esvaziarmo-nos de nós próprios para darmos lugar a Deus. Para quem possa não ter fé o desafio mantém-se. Pode não ser para dar lugar a Deus, porque não O reconhecem assim, mas será sem dúvida para dar lugar aos outros. A aceitar em qualquer dos casos que, efectivamente, não temos a última palavra, que a nossa independência só o será se verdadeiramente formos capazes de nos libertar dessa forma aparente de independência que se chama egoísmo. Porque não temos de facto. Temos em nós mesmos inscrita uma profunda necessidade de relacionamento com os outros. Somos mais as perguntas que fazemos do que as respostas que damos, mas tal só acontece e só pode acontecer porque à luz do que está fora e para além de nós, continuamos essa jornada que outros já começaram, lá longe, nos alvores da humanidade, em que nos descobrimos seres animados pensantes… A verdadeira independência descobre-se quando nos sentimos dependentes dos outros. Nisto como em muitas outras coisas, damo-nos conta: é nestas contradições que descobrimos a nossa verdadeira identidade. Deus criou-nos para sermos independentes, mas não para sermos egoístas, não nos criou para sermos sozinhos, mas para sermos em relação com os outros. Hoje a independência que nos dá o feriado, deveria ser ocasião para nos interrogarmos, até no palco nacional e internacional, se estivéssemos sozinhos, onde é que já teríamos ido parar? Na nossa vida, se não fossem os que nos rodeiam, onde é que estaríamos? Homens e mulheres de fé, se não estivéssemos na mão de Deus, onde é que chegaríamos?

Vale a pena querer ser independente, sim. De tudo o que nos impede de sermos homens e mulheres capazes de amar os que Deus coloca no nosso caminho para amarmos, de tudo o que nos impede de O reconhecer em permanente advento à nossa vida, para gritar aos nossos ouvidos: EU SOU a tua verdadeira independência!!!

27 novembro 2010

Vigiai!!!

O apelo não é novo. Para vigiar é preciso estar desperto, acordado... porque não sabemos o dia nem a hora. Noctívagos, às vezes, pelos dias da vida, precisamos de algum impacto para acordar para esta necessidade: vigiar...
Vigiar é uma atitude própria da noite, para depois andarmos dignamente como convém em pleno dia. É curioso pensar nesta antítese do vigiar na noite, para viver em pleno dia... luz e trevas, noite e dia, escuridão e claridade, estar com sono e estar desperto... o tempo de advento é o tempo mais típico do cristão: aquele em que vive a tensão permanente da sua vida de forma especial, na expectativa da iminente vinda do Senhor, em que mais plenamente se decide a caminhar na Sua Luz...
É Ele a nossa luz...
É Ele quem dissipa as nossas trevas...
É Ele a madrugada que põe fim à noite
em que vivemos, e nos leva ao pleno Dia,
libertos para sempre dessa escuridão,
à claridade da Sua luz,
abandonando a sonolência,
despertando para a eterna Aurora...
Maranatá...

17 novembro 2010

Hoje em mim

A noite caiu conferindo ao dia um misterioso adjectivo: passado. Passado porque chegou ao fim. Passado porque hoje foi um dia novo. Passado porque eu próprio chego ao final «passado». Cada pessoa que passa diante de nós é uma espécie de desafio que Deus nos apresenta: que sejamos capazes de a escutar, de lhe responder, de abraçar, numa palavra: de amar. Os diversos centros sobre os quais gravita a nossa vida têm este eixo comum: quem nós somos, lubrificados pelo amor de Deus, que passa pelos outros, e também por nós próprios.
Muitas vezes não temos respostas. Aliás frequentemente temos mais perguntas do que respostas. A dúvida assalta-nos. É metódica, diria R. Descartes. Por mais que tentemos ser ou fazer melhor nem tudo depende de nós. Concomitantemente a cada um de nós é pedido que sejamos capazes de entender aqueles que passam pela nossa vida. Às vezes sabe bem deixar tudo nas mãos Dele, para que seja Ele a decidir o melhor. Fazendo tudo aquilo que depende de nós, confiamos porém que a nossa felicidade está mais além... está garantida. Não apenas através do nosso esforço. Não por um qualquer seguro. Mas únicamente por dom de Deus, que aliado ao nosso labor, garante, como um selo de garantia que não falha, a felicidade.
Não sabemos o que irá acontecer amanhã. Não adianta pensar demasiado naquilo que foi a nossa vida até aqui. A única coisa que realmente está nas nossas mãos é fazer do agora o momento de abertura à graça divina, qual sol que fará germinar a semente de amor que hoje lançámos. Nem somos donos do mundo, nem de ninguém, nem dos outros. Em última análise, nem sequer somos donos de nós próprios. Na mão de Deus colocámos os nossos anseios, as nossas esperanças, as nossas dúvidas e também os nossos pecados, erros, dores e limitações. A nossa fraqueza consciente é Nele tornada uma fortaleza inexpugnável.
O mundo pode acabar. Podem nem todos entender o que fazemos. Alguns podem mesmo pensar que somos ingénuos. Mas Ele se encarregará de dar um sentido ao sem sentido do quotidiano. Aliás, Ele é o sentido, Ele é que vem ao nosso encontro todos os dias, é Ele que pede para ser amado em cada um dos que passa diante de nós. Não porque Ele precise. Mas porque nós precisamos urgentemente de descobrir que fomos feitos para amar, não a nós próprios apenas, não aos nossos amigos apenas, não apenas àqueles que nos convém, mas a todos os que estão fora de nós: só assim seremos capazes de superar o sem sentido aparente e a finitude das coisas.
Deus nos livre do dia em que nos considerarmos perfeitos e só aceitarmos esses a rodearem os nossos assentos. A maravilha da vida e a ânsia de eternidade que nos habita só poderá encontrar uma resposta se formos capazes de aceitar a nossa condição: imperfeitos, limitados, fracos. Mas a resposta é Ele Quem a dá, e somos nós que nos deixamos responder.

01 novembro 2010

FELIZES!

Felizes, felizes, felizes… assim (n)os dizia Jesus hoje.


Vale a pena partilhar o que outro partilhou e continuar a fazer ressoar os ecos daquela montanha:

Tal como a mãe se alegra com as dores do parto, e se sente já feliz pela vida que vai nascer, ou como o atleta corre feliz motivado pela ânsia de subir ao pódio, mas só aí se sente realizado, também o cristão neste dia se recorda de que a felicidade que sente nesta vida é em vista de outra muito maior e melhor, que supera a fertilidade de toda a imaginação, por se saber nas mãos Daquele de Quem ninguém o pode retirar… e sabe e sente que a sua verdadeira felicidade ainda não é aquela que vai sentindo. Filhos de Deus, é isso que nós somos… e quantos não sentimos ou não nos comportamos com orgulho por tal… DEUS É SANTO também nos seus santos, nos seus filhos, apesar das nossas misérias… palavras para quê?



26 outubro 2010

à escuta...

Disse, então: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.» Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.»
do Evangelho segundo S. Lucas 13,18-21.

08 outubro 2010

Pela manhã...

Prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo. Por isso, sinto complacência nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas adversidades, nas perseguições, nas angústias que sofro por amor de Cristo: quando me sinto fraco, então é que sou forte.
Assim escreveu Paulo na 2ª aos Coríntios, e hoje a liturgia propõe logo de manhã. Vale a pena ler e reler até atingir o pleno sentido à luz da fé.

21 setembro 2010

«Segue-me»

Naquele tempo Jesus ia a passar e vê um homem na sua ocupação habitual. Foi na banca dos impostos, como hoje poderia ser a varrer a rua, numa escola, num café, não importa. Jesus não se desvia de nós para passar, ao contrário escolhe o lugar onde nós estivermos para passar junto a nós e nos dirigir a Sua palavra: «Segue-me». Assim foi com Mateus. Não se preocupou se a sua ocupação era mais justa ou menos, mais pura ou menos. Na realidade, era funcionário dos estrangeiros, dos dominadores, dos ocupantes, dos que continuavam a subjugar aquele povo, com um estranho conceito de paz, sem vencedores nem vencidos, mas de pessoas intimidadas pela presença estrangeira e que pagavam cada dia a sua liberdade pelos pesados impostos. Mateus era instrumento disso. Curiosamente Jesus passa por onde ele está a trabalhar e interpela-o com uma palavra. Um convite, que encontra eco no coração daquele homem. Há muito que ouvira falar de Jesus. A Sua fama precedia-O. Que poderia querer dele aquele filho do carpinteiro de Nazaré, agora seu vizinho em Cafarnaum? Ir com Ele era deixar a segurança de um trabalho que lhe permitia certamente mais do que o sustento necessário, uma vez que retirava do imposto uma parte para si. E que novo imposto quereria Jesus que ele cobrasse? Que contas quereria que fizesse agora? Qual a parte que lhe estava destinada nesta nova banca de cobranças? Por outro lado significava deixar de ser olhado de lado pelos seus irmãos de raça. Deixando de ser funcionário dos opressores, e portanto opressor com eles. Passaria a estar agora do lado dos oprimidos? Ou passariam os seus irmãos de raça a olhar para ele como mais um louco que seguia outro louco?

Estas e muitas outras perguntas se terão formado no espírito de Mateus. O Evangelho não nos dá conta delas. A atitude deste homem depois de escutar a palavra de Jesus é relatada em duas palavras: levantou-se e seguiu. Deixa o que está a fazer, e à palavra de Jesus este homem ergue-se de onde estava sentado. E segue-O. A verdadeira banca de impostos em que Mateus estava sentado a cobrar era a banca do egoísmo, esse imposto que nós seres humanos temos por hábito taxar aos outros. E Mateus vai passar a ser distribuidor em vez de cobrador: tal como Jesus distribui amor, misericórdia e compaixão. Segue Jesus mas é Ele quem entra na sua casa. Jesus continua desconcertante, e não vem sozinho, vem rodeado de pecadores e publicanos, duas «espécies» de gente que os fariseus tinham por hábito classificar de indesejáveis. Faz-se rodear «desse tipo de gente», de onde pelos vistos escolhe também os seus discípulos. E de imediato a gente de bem daquele tempo interpela os discípulos: porque motivo come «o vosso mestre» com pecadores e publicanos? A resposta de Jesus é confirma aquilo que estava à vista: não são os que estão sãos que precisam de médico, não são os justos que precisam de um redentor, não veio chamar os que são peritos em sacrifício, mas sim os doentes, os pecadores, os que têm falta de misericórdia. E deixa aos que se atrevem a criticar as intenções do Mestre uma ordem: ide aprender o que significa «Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios».

Mateus torna-se, segundo «a medida do dom de Cristo», evangelista, a fim de «contribuir para a edificação do Corpo de Cristo», passando a ser «homem perfeito segundo a medida de Cristo na sua plenitude». O desafio é bem claro. Hoje é por nós que Jesus passa e é a nós que desafia: «segue-me». É de nós que espera que o sigamos, porque à sua palavra seremos capazes de nos levantar do erro a que estamos tantas vezes agarrados, deixar a banca do egoísmo em que insistimos tanto em trabalhar, quem sabe porque estamos iludidos esperando obter daí salvação, taxando mal o mundo, os outros, quem sabe nós próprios, entregando de mão beijada a nossa liberdade, em troca de uma paz falsa. Vivendo nós na nossa própria terra como se fossemos estrangeiros. Jesus passa de novo por nós. Talvez já tenhamos ouvido falar dele. Talvez já nos tenhamos perguntado porque é que Ele decidiu ser nosso vizinho, próximo de nós. Ele tem o estranho hábito de se fazer rodear de pecadores e publicanos. Talvez seja isso que nos faz evitá-lo. O nosso fariseísmo impede-nos de ouvir as suas palavras, e apenas somos capazes de ver de quem se rodeia. Parece que é de gente que não interessa. É mais fácil criticá-lo do que deixar-se seduzir pelas suas palavras. Aceitá-lo e segui-lo é passar aos olhos de muitos dos nossos contemporâneos a fazer parte do grupo dos que seguem esse «Mestre». Seremos nós capazes de lhe responder ao seu convite? Será que somos capazes de responder aos que nos perguntam porque é que o nosso mestre come com pecadores e publicanos? Ou somos dos que lhe perguntam que tipo de mestre é por tomar essa atitude? O nosso mestre é O Mestre que inverte doutrinas, que não mede como é medido, mas que tem uma medida própria, que prefere a misericórdia aos sacrifícios. Um perfeito louco, já se vê. Perigoso esse Jesus. Tanto mais que é provável que se vire para os que o criticamos de longe mas não abertamente, e nos advirta que esses a quem julgamos, serão nossos juízes no fim. É um médico para doentes. Chama os pecadores. Compadece-se dos fracos. É capaz de fazer levantar os que estão tranquilamente sentados na sua banca de trabalho habitual, para fazer de uns apóstolos, outros evangelistas, outros mestres, para a construção do Seu Corpo.

10 junho 2010

Um olhar diferente...

Um dia um homem muito importante, e que aos olhos de Deus tinha sido tornado grande. Tinha tudo e mais ainda do que o necessário. Não contente com isso, esse homem desejou a única coisa que não lhe pertencia. O nome do homem era David, o que não lhe pertencia era a mulher do próximo. A fraqueza está presente nas nossas vidas. Seja como David, ou como a escritura narra, desde Adão, passando pela história que hoje narra o Evangelho e por tantas outras, que são inclusive as nossas. À mesa, como convidado, Jesus está certamente reclinado, como era habitual fazer-se no tempo. No fim dos banquetes, numa sociedade com os seus problemas, prostitutas procuravam os seus clientes, porventura já embriagados. Todos sabiam o motivo pelo qual essas mulheres rondavam as mesas dos festins. O julgamento do fariseu Simão foi imediato. Se o seu convidado fosse profeta já saberia quem era a mulher e o que queria dele. Mas a mulher tem uma atitude que surpreende. Procurava hoje um cliente diferente, para um outro encontro. Ela trouxe um frasco de perfume, e sem ousar pôr-se à frente de Jesus, chorando, lava os pés de Jesus e utiliza para os secar uma toalha, no mínimo invulgar, os seus cabelos. Beijava-os e ungia-os com perfume. Jesus tem um problema maior para resolver antes de se dirigir àquela mulher. Tem que resolver o dilema no coração do seu anfitrião. Nova história. Se um homem tendo dois devedores, e um lhe devesse mais do que o outro, e por não terem com que pagar, perdoa a ambos, qual devia ser o mais agradecido? Até nós daríamos a mesma resposta de Simão. No que toca a problemas de dinheiro, somos todos peritos. A quem mais foi perdoado, mais agradecido deve ficar. Mas, mudando a realidade, e tratando de coisas bem mais importantes que o dinheiro, de uma pessoa, seja da mulher pecadora, seja de David, ou de tantos irmãos nossos, a nossa resposta não seria a mesma.
O olhar de Jesus é diferente. Não se apressa a julgar os comportamentos da mulher. E no meio daquelas lágrimas e de beijos, Jesus vê amor e arrependimento. Afinal o Profeta de Deus não vinha trazer mais moralismos vazios, mas antes compaixão. Jesus prefere reconhecer nela uma mulher que se sabe amada e perdoada por Deus. Por isso deixa-se tocar e amar por ela. Oferece-lhe o perdão de Deus.  Ajuda-a a encontrar dentro de si própria a fé que a salva e que a deixa viver, dai em diante, em paz. Por isso afirma Paulo que não é pelas obras da Lei que o homem se torna justo, mas pela fé em Cristo Jesus. Por isso é que todos nós acreditámos em Jesus, a fim de vivermos para Deus. E viver para Deus é viver como Jesus viveu, fazendo do olhar dele o nosso olhar, da sua compaixão a nossa, do seu perdão o nosso, do seu amor, o nosso. E depois como diz Paulo, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E se vivemos ainda marcados pela nossa fraqueza, vivemos animados pela fé no Filho de Deus que nos amou e se entregou por nós, para que Cristo não tenha morrido em vão.
Hoje, no meio de nós, não fazem falta muitas palavras. Apontar os outros, porventura como o fariseu no Evangelho, mesmo no nosso coração, é sempre mais fácil do que acolhê-los, amá-los e mostrar-lhes o perdão de Deus. Foi assim que Jesus fez, e é assim que Ele quer continuar a fazer, através de nós. Ele é mestre e senhor. Mas se ele não se limitou a ensinar, mas a ser profeta da compaixão de Deus, então nós temos de seguir-lhe o exemplo. Temos de ser cristãos capazes de olhar para os marginalizados, os transviados, aqueles que ninguém quer por perto, com os olhos de Jesus. Felizes aqueles que têm já na sua vida esta opção. Sejamos nós capazes de tomar esta opção, afinal a de Jesus, e a de tantos santos e santas, doutros tempos e do nosso, para estar juntos de quantos precisam de quem defenda a sua dignidade, e desperte a sua fé no Deus que a todos nos ama, entende e perdoa, como nós não somos capazes de fazer. Não há outra forma de perdoar os nossos próprios pecados. O próprio Jesus é quem nos diz: «São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama». A todos nós muito foi perdoado, porque esperamos para amar mais ainda?

06 junho 2010

Hoje em mim!!! 24

Continuo a ser um pensador, às vezes dormindo, outras vezes acordado. Capaz de sonhar, viver e amar, porque outros amaram por mim, e me fizeram acreditar que o pensamento é a expressão da liberdade dos que Ele criou.

Hoje com mais um ano de vida, agradeço-Lhe tudo o que me concede. Vale a pena lutar por ser feliz!

05 junho 2010

Eu te ordeno, levanta-te!


Apetece-me começar com uma pergunta: depois de vivernos o Tempo Pascal, que terminou com o Pentecostes, depois do Domingo da Santíssima Trindade, e até do Dom do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, como é que na vida do dia-a-dia descobrimos a presença de Deus?  Em que é o que celebrámos na fé, adiantou para a nossa vida de hoje?
A maneira de perceber Deus e a própria vida foi variando ao longo dos tempos. Disso mesmo dá testemunho a Palavra de Deus. Por um lado, perceberemos nós Deus presente nas nossas vidas? Questionando-O, e à sua forma de proceder, até duvidando Dele, e daqueles que Ele coloca no nosso caminho? É o que acontecia hoje na primeira leitura. Uma mãe questiona um homem. Viria ele lembrar-lhe os seus pecados? Seria a morte do filho seria culpa dele? E, então, Elias, assim se chamava o homem, intercede diante de Deus por aquela pobre mulher, viúva, e pelo seu filho entretanto morto. Por outro lado, será que às vezes nos esquecemos que é possível que seja o próprio Deus a vir ao nosso encontro? Disso dá testemunho o Evangelho. Jesus olha para a mulher e já não tem necessidade que ninguém interceda por ela e por seu filho morto. Ele próprio olha para ela, compadece-se e diz-lhe cheio de compaixão: Não chores! O novo profeta já não tem necessidade de se dirigir por três vezes a Deus, mas, porque Ele próprio é Deus, ordena ao jovem que se levante. Imediatamente ele se levanta e começa a falar. Num e no outro caso é motivo para que se dê glória a Deus. Porque Deus visita o seu povo, Deus salva o seu povo.
Em Jesus Cristo Deus vem ao nosso encontro, para ser nosso alimento, para se fazer caminhante connosco, pelas estradas da vida. Não admira que este Deus surpreenda e contrarie as intenções de Paulo, como escutávamos na II leitura. Ele predestina-nos desde o seio materno, chama-nos pela sua graça, para revelar em nós Jesus Cristo, a fim de que nós demos testemunho e O anunciemos. Como dirá S. João, nisto conhecemos o amor de Deus para connosco, não fomos nós que O amámos, mas foi Ele que nos amou primeiro. Quando éramos injustos, um só morreu por nós.
Este Deus que é Família, que é Trindade, que Se aproxima livremente de nós, apenas por amor, não se limita a dar-se-nos a conhecer, e a revelar-Se como amor, mas quer que nós entremos nesta comunhão, neste diálogo, que só pode ser de amor. Como Paulo deixamos de consultar a carne e o sangue, para passarmos a responder a este convite do Deus Amante, que através da nossa própria vida Se nos vai dando a conhecer. Geralmente é nos momentos baixos, que Ele Se nos mostra: com toda a sua força, a palavra de Deus hoje escolhe precisamente a negação da vida, a morte, como manifestação de Deus, isto é, onde parece estar o aparente absurdo. As situações semelhantes de duas viúvas, aquelas que mereciam mais compaixão segundo o judaísmo, por simbolizarem a extrema pobreza, que perdem os seus filhos únicos, o que lhes restava, são motivo para que Deus intervenha. De forma diferente, ora por intermediários, por profetas, ora fazendo-Se Ele mesmo o grande profeta, Deus salva os seus fiéis, porque a Sua benevolência dura a vida inteira, porque no amanhecer volta a alegria, Ele é o nosso auxílio, Aquele que converte em júbilo o nosso pranto, e nos dá motivo para que O louvemos eternamente.  
Não há maior convite ao amor do que experimentar previamente o Amor, dirá mais tarde S. Agostinho. De facto o convite hoje mantém-se, Ele dirige-se a nós, não para nos pedir contas dos nossos pecados, não para nos causar desgraças, não para nos pedir o impossível, não para nos deixar sem nada, mas para olhar para a nossa miséria, para se compadecer de nós, para limpar do nosso rosto as lágrimas e nos fazer de novo levantar: numa palavra para nos amar. Na multidão poderemos estar certos que Jesus dirige o seu olhar para cada um de nós, para a nossa vida, e à Sua palavra, a vida ganha um novo sentido. Já não estamos sós, Deus está connosco. E a nossa vida recobra forças, recobra a esperança.
Em cada Eucaristia, uma vez mais, seremos convidados a olhar para a Sua entrega por nós. Deixemos que Ele se faça nosso alimento, e com Ele celebremos o banquete do festim de Deus para nós, o verdadeiro sentido da nossa vida e da nossa existência. É à nossa porta que Ele bate para entrar. É Ele que tem palavras de vida eterna. Deixemos hoje uma vez mais que, na nossa vida, seja Ele a voz que ecoa no meio da multidão: Eu estou contigo para te salvar! Eu estou contigo porque te amo. Eu te ordeno, Levanta-Te!

01 maio 2010

Já não vos chamo servos, mas AMIGOS!

Num jogo de futebol, os que estamos a assistir somos todos adeptos. Num concerto, somos fãs. No cinema, espectadores. Nas profissões, que cada um de nós tem ou teve, somos chamados colaboradores. Numa colectividade das que existem por aí, somos sócios, e até há os que são sócios honorários. E, talvez noutras zonas, há os aficionados das touradas. Na Igreja, seja aqui, seja na nossa forma de nos relacionarmos em Igreja, habitualmente, chamamo-nos uns aos outros «irmãos e irmãs». E porquê? Porque em Jesus Cristo Deus assume a humanidade, elevando a nossa humanidade a um grau superior de fraternidade. Já não é apenas porque somos todos humanos que nos consideramos irmãos e irmãs. Mas é porque, em Jesus Cristo, Deus revelou-se, ao menos, como o melhor Pai que pode haver. Será que nós nos sentimos filhos muito amados desse Pai? Ou seremos nós adeptos, fãs, espectadores, colaboradores, sócios ou até aficionados?
Embora o evangelista João coloque estas palavras na boca de Jesus, no momento da Última Ceia, a liturgia de hoje retoma-as num momento ainda mais pascal. Se olharmos para o texto, podemos tomar consciência de que Jesus se está a “despedir “ dos seus discípulos. Dentro de pouco tempo, Ele já não estará com eles como até então. Quem poderá preencher o Seu vazio? Repare-se que João anota o pormenor que Jesus falou depois que Judas saiu. Judas que representa aqui a perspectiva de entender a cruz como um fracasso, como o fim de tudo, como o «adeus até nunca mais» de Jesus aos seus discípulos. Jesus diz-lhes: dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Se souberem amar-se uns aos outros como Jesus o fez, não deixarão nunca de o sentir presente no meio deles. Claro que para vivermos desta forma, será já muito positivo se vivermos como irmãos. Mas João coloca na boca de Jesus mais alguma coisa: vós sois meus amigos; já não vos chamo servos mas amigos. Então a comunidade de Jesus será uma comunidade de amizade. A Igreja é a comunidade dos amigos de Jesus. Claro que esta imagem depressa ficou esquecida. Estamos todos mais habituados a entendermo-nos como uma família, a família de Jesus. Por isso durante séculos a fio, e quem sabe ainda hoje, alguns nessa família são pais (o papa, os bispos, os sacerdotes, os abades…)e outros são filhos (os fiéis) e todos hão-de viver como irmãos. Se entendermos assim a comunidade cristã, estimulamos a fraternidade. Porém corremos alguns riscos. Na família cristã tende-se a sublinhar «o papel» que corresponde a cada um. Destaca-se o que nos diferencia, não aquilo que nos une. Dá-se muita importância à autoridade, à ordem, à unidade, à subordinação. Os riscos que se correm são visíveis: promove-se a dependência, o infantilismo e a irresponsabilidade de muitos. Afinal, na comunidade de Jesus, entendida assim, mesmo que um filho faça alguma coisa mal, ou nem sequer faça, haverá sempre um dos que é pai que virá corrigir, fazer ele mesmo, ou mandar fazer.
Em ambiente pascal, como o que estamos a viver, a Palavra de Deus sugere esta imagem da «comunidade baseada na amizade cristã». É uma imagem sem dúvida riquíssima, e que poderia não apenas enriquecer, como transformar hoje, agora, a Igreja de Jesus, a começar pela nossa paróquia. É que a amizade promove o que nos une, e não o que nos distingue. Entre amigos cultiva-se a igualdade, a reciprocidade, o apoio mútuo. Ninguém está por cima de ninguém. Nenhum amigo é superior ao outro. Respeitam-se as diferenças, mas procura-se a proximidade e a relação.  Entre amigos e amigas é mais fácil sentir que afinal a responsabilidade da Igreja de Jesus Cristo, é missão de todos, e que o seu mandamento novo nos envolve a todos. É mais fácil sentirmos que todos temos de colaborar, que temos de estar abertos aos estranhos e indiferentes ou alheados da nossa comunidade, porque precisam de ser acolhidos e precisam da nossa amizade. De uma comunidade de amigos é mais difícil alguém ir-se embora. De uma comunidade fria, rotineira e indiferente, as pessoas vão-se embora, e os que ficam só têm pena. Mas não sentem necessidade de meter mãos à obra. Jesus Cristo ressuscitado deu a Sua vida por nós a fim de que não fossemos nem frios, nem rotineiros, nem indiferentes, nem descomprometidos, nem adeptos, fãs, espectadores, colaboradores, sócios, e nem sequer aficionados. Amar-nos uns aos outros é impossível se nos sentirmos assim. O amor a que Jesus nos chama é um amor semelhante ao seu: desinteressado, libertador, de Deus. O desafio do mandamento novo de Jesus tem de ser assumido por nós. Irmãos e irmãs? sim. Mas somos sobretudo aqueles a quem Jesus chamou amigos. Aqueles que havemos de cada dia acolher o seu triunfo da Páscoa, que nos enche de esperança, e que nos dá forças para lutarmos cada dia, a fim de construirmos já aqui o princípio dos novos céus e da nova terra, onde Ele nos espera, como Cordeiro que foi imolado, sentado no trono. Claro que é necessário, como dizia a primeira leitura, «sofrer muitas tribulações para entrar no reino de Deus». Mas Deus está connosco. Do 1º ao último dos livros da Sagrada Escritura, Deus revela-se como um Criador apaixonadamente laborioso em favor dos homens. No princípio, para nos dar um ambiente que nos acolhesse. No fim, para o refazer, após uma história de pecado, que inevitavelmente nos conduziria à ruína. Aí Ele enxugará todas as lágrimas dos nossos olhos. Isto é Páscoa. Estaremos nós decididos a deixar-nos transformar na Páscoa que celebramos? A passar de adeptos, fãs, espectadores, colaboradores, sócios, ou aficionados, a irmãos e irmãs, mais ainda, a sermos hoje aqueles a quem Jesus não chama servos mas amigos?

25 abril 2010

«o Meu Pai é maior do que todos»

Mais vezes do que aquelas que pensamos os que nos dizemos cristãos vivemos de forma ateia. Dizemos acreditar em Deus, mas perante momentos como os que vivemos, na Igreja e em sociedade, vivemos como se Deus não existisse. Perante a crise religiosa actual, e diante de um “futuro incerto” para a própria Igreja, respondemos verdadeiramente como ateus. Celebramos a liberdade, mas procuramos  pouco os caminhos da verdadeira Liberdade!
Não sabemos caminhar «na presença de Deus». Olhamos para as nossas crises e planificamos os nossos trabalhos contando apenas connosco mesmos. Esquecemo-nos que o mundo está nas mãos de Deus, não nas nossas. E que o Bom Pastor, que cuida e guia a vida de cada ser humano, é Deus.
Vivemos porventura como órfãos, como se tivéssemos perdido o nosso Pai. A crise supera-nos. O que nos é pedido parece ser demais. Não há quem tenha ânimo perante uma tarefa cujo êxito não se vê aproximar por lado nenhum. Sentimo-nos sós, e cada um defende-se como pode.
No Evangelho deste domingo Jesus está em Jerusalém, talvez durante o inverno, comunicando a Sua mensagem. Para não arrefecer caminha num dos pórticos do templo, rodeado pelos judeus, que lhe fazem perguntas. Está a falar das ovelhas que escutam a Sua voz e O seguem. A dada altura afirma claramente: «o Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos, e ninguém pode tirar nada da mão do Pai». De acordo com as palavras de Jesus, Deus é maior do que todos. Então, que nós estejamos em crise, não quer dizer que Deus esteja em crise. Que os cristãos percam ânimo, não significa que Deus tenha perdido a força para nos salvar. Que nos faltem palavras ou a maneira de falar com os homens e as mulheres do nosso tempo, não quer dizer que Deus não tenha já encontrado caminhos para falar ao coração de cada pessoa. Que porventura as pessoas abandonem as nossas igrejas, não é sinónimo de que não estejam na mão do Pai.
Deus é Deus. Nenhuma crise religiosa, nenhuma mediocridade, de dentro ou de fora da Igreja, poderá arrebatar das mãos do Pai, esses filhos e filhas que Ele ama com um amor infinito. Deus não abandona ninguém. É Bom Pastor, em Jesus Cristo. Tem os seus caminhos para cuidar e guiar, para pastorear, cada uma das suas ovelhas, cada um dos seus filhos e filhas, caminhos que não são necessariamente os que nós pretendemos traças.
A vocação de todo o ser humano é à vida eterna. E passa por caminhos diversos, sejam de consagração na Igreja, para serviço dos irmãos, sejam numa comunhão íntima de vida, ou até individualmente. O Senhor da messe e pastor do rebanho continua a guiar-nos através dos pastores que Ele escolhe, e que encontram Nele, único Bom Pastor, a imagem à qual hão-de ser pastores.  Nesta semana de oração pelas vocações, em ano sacerdotal, estamos convencidos que o testemunho suscita vocações, e que se olharmos à nossa volta há mais gente como nós. Quiséramos seguir sempre esse único Bom Pastor, e ser pastores e ovelhas do seu rebanho, confiados que a Ele ninguém nos poderá arrebatar, que nas Suas mãos de Pai está a segurança que procuramos, Ele que é maior que todos, segundo a palavra de Jesus.
Estaremos nós realmente convencidos de que somos o Seu Povo, as ovelhas do Seu Rebanho? Ocorre-me dizer, somos seres animados pensantes!

16 abril 2010

Páscoa, na nossa vida!

A Páscoa é um acontecimento que espera passar da celebração solene, para a vida de cada dia, que pode ser aborrecida, monótona, cheia de rotina, mas que contém a presença discreta, porém real, do Senhor Ressuscitado. Ele está connosco e quando nós percebemos isto somos capazes de transformar toda a nossa vida numa verdadeira Eucaristia. Para isto é preciso fé. Mas também amor.
Ao olharmos para o Evangelho, e concretamente para o que hoje nos foi proclamado, nós damos conta que Jesus gosta de encontrar as pessoas nas situações mais banais da vida de cada dia. Foi assim com os discípulos, desde a primeira hora, quando os chamou para que O seguissem, e significativamente também hoje, quando os encontrou ocupados na pesca, a sua actividade habitual. Também a Mateus chamou quando cobrava impostos. A samaritana encontrou-a junto ao poço a buscar água, como todos os dias. Ao chegarmos a esta última página do Evangelho de João somos também levados à mesma conclusão: é na vida que se encontra Jesus Cristo, é com a nossa vida concreta que Ele deseja interferir. Para quê? «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Não é isto a vida? Trabalhar por vezes com resultado e outras vezes não apanhar nada?! Então se Jesus pode interferir com a nossa vida concreta nós só temos a ganhar. Não se trata de deixar de ter dificuldades, não se trata de ganharmos a lotaria, mas de aprender de Jesus certezas e motivações novas, a certeza de que construímos sobre a rocha e não sobre a areia. Com Ele é diferente vivermos como família, a maneira como tratamos os outros, a relação com as coisas, com trabalho… com a vida. No fundo é o que Ele dizia na última ceia: sem Mim nada podeis fazer. É para Ele que dirigimos o nosso coração, mesmo secretamente, até sem o sabermos. Pagou isso por preço caro, pois como dizia a segunda leitura, foi por nós imolado.
A Eucaristia, que celebramos, tem alguma coisa a ver com o regresso dos pescadores da labuta da noite: «trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Traz-se aquilo que se viveu, que se experimentou, que se sofreu, e tudo se torna Eucaristia. Então já não vemos Jesus Ressuscitado ao longe, nem de uma maneira confusa, mas de perto. Dos seus lábios é que recebemos a Palavra que nos reanima, e das suas mãos o Pão que nos conforta nesta caminhada. Ele está connosco vivo e ressuscitado!
Depois de comer com os discípulos na margem do lago, Jesus começa a conversar com Pedro. Um diálogo importante, para nos recordar que, na comunidade dos seguidores de Jesus, só está capacitado para ser guia e pastor quem se distingue pelo seu amor a Ele. Pedro é aquele que aparece sempre na linha da frente para dar a conhecer a sua adesão a Jesus, e é o mesmo Pedro que, na hora da verdade, é o primeiro a negar Jesus. Antes de lhe confiar o Seu rebanho Jesus faz-lhe a pergunta fundamental: Simão amas-me mais do que estes? Não lhe pergunta se sente forças, se conhece bem a sua doutrina, se sabe governar… Não. É o amor a Jesus que capacita para animar, orientar e alimentar os seus seguidores, como Ele próprio o fez. A resposta de Pedro é humilde: Tu sabes que Te amo. Mas Jesus volta a interrogá-lo. E a certeza inicial converte-se em insegurança, até que já não se atreve senão a responder: Tu sabes tudo, sabes que Te amo. À medida que Pedro toma consciência da importância do amor, Jesus vai-lhe confiando o seu rebanho para que cuide dele, começando pelos mais pequenos, os cordeiros. Cristo é o verdadeiro Cordeiro que se oferece por nós em sacrifício, que converte a sua vida na verdadeira Eucaristia, Ele é digno de receber o poder, a honra e a glória. É por causa do nome de Jesus, e não de outro qualquer, que os discípulos são açoitados, perseguidos e ameaçados, e sentem alegria. É uma questão de fé e de amor. E nós temos a sorte de ter em Maria um exemplo privilegiado do seguimento de Jesus Cristo. Sem compreender tudo, mas guardando todas as coisas em seu coração ela reúne, nesse lugar tão especial para todos os seres humanos, os acontecimentos da vida do seu filho, tornando a sua vida uma Eucaristia como cada um de nós é chamado a fazer, passando a Páscoa para a vida. Se o apascentar o rebanho de Jesus é uma questão de amor, Maria foi de facto aquela que mais amou, que mais acreditou, e que continua a apontar-nos o verdadeiro Cordeiro, Jesus, o seu filho, o Filho de Deus. Pedro experimentou a negação de Jesus. De Maria podemos razoavelmente supor, ao menos, a espada de dor que a trespassou quando acolheu o corpo sem vida do seu filho nos braços. Mas a Eucaristia é isto: trazer da vida o que experimentou, o que se sofreu, alguns dos peixes que apanhamos na faina da noite, para que se tornem vida verdadeira por Jesus Cristo, Eucaristia, pela força da Sua Ressurreição, para que de novo Ele partilhe connosco o Seu amor e nos conduza ao festim da pesca abundante, quando de novo nos disser: «Vinde comer».
São coisas que quem ama a Cristo está em condições de compreender. Por isso é que Ele pergunta: Simão, filho de João, tu amas-ME? Não tenhamos receio de substituir o nome de Simão pelo nosso. Maria a isso nos auxilia, apontando-nos o seu filho, conduzindo-nos até Ele, que nos deixa apenas uma palavra: segue-me!

02 abril 2010

Acontece(u) à (quase) dois mil anos!

E hoje acontece de novo, e sem fim aconterá enquanto houver humanidade: um homem caminha com dificuldade sob o peso de uma cruz que outros lhe carregam. Muitos homens e mulheres caminham em direcção a um pequeno monte que lhes parece intransponível. Do qual não voltarão a sair com vida. Eis os calvários dos seres humanos: para onde os nossos irmãos nos empurram, para onde caminhamos sem saber porquê, carregados com cruz(es), suportanto quedas, sustentando a vontade de nos erguermos, esperando cireneus e verónicas, vendo-nos por fim sós, rodeados de muito poucos...
Uma foi a via sacra que Ele transformou em caminho de salvação. Outras são as vias, quem sabe não sacras, por onde nós caminhamos. Sexta-feira Santa é um dia para pararmos e nos apercebermos de quanto ignoramos o sentido e o peso das cruzes que os outros carregam, e pensamos que aliviamos a nossa se formos generosos em carregar a dos outros. A resposta da via sacra de Jesus, e da que cada um vai traçando, unindo-se assim à Passionis, é o amor. Ao ponto de para nós, cristãos, não haver diferença entre esse amor e a pessoa de Jesus Cristo, e portanto do próprio Deus. «Deus é amor». Atreve-te a viver por amor!

25 março 2010

Pede um sinal ao Senhor teu Deus!

Todos os dias andamos à procura de sinais. A nossa sociedade precisa de sinais. Nós próprios necessitamos de sinais. Sinais de recuperação económica. Sinais de que o direito à liberdade de expressão e opinião é respeitado. Sinais de amor. Sinais de esperança. Sinais dos tempos. Sinais vitais. Sinais! «Executai planos», «ordenai ameaças». Mas nada temais, Deus é connosco. Seja no fundo dos abismos, seja lá no alto. Quer nos momentos de angústia, quer nos momentos de felicidade. Nos momentos de angústia para nos levantar, e nos de felicidade para se alegrar connosco. Maria soube exemplarmente acolher o sinal do Deus connosco. Acolhendo Deus ela é Sua mãe. Se nós formos capazes de O acolher, geramos de novo o Cristo, na ordem da fé, possibilitamos que Ele de entre uma vez mais na nossa história. É de cada um de nós hoje que Deus quer ouvir: eis o servo do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Não são os sacrifícios que Lhe agradam, mas o fazer a Sua vontade.

16 fevereiro 2010

Quaresma...

Por vezes temos de nos lembrar do que somos,
de Quem precisamos,
de tentar ver Aquele que nos vê
Quem dá sentido à nossa pobre cinza,
de Onde vem o sopro que nos dá vida.
E também de nos retirar-mos.
Bom início deste tempo!

13 fevereiro 2010

Felizes quem?!

Se abrirmos os jornais todos os dias nos aparecem notícias de controvérsias e desgraças sociais. A crise económica mundial, a riqueza de uns quantos, que não evita a degradação e pobreza de milhões de pessoas, um terceiro mundo que teima em subsistir graças ao estilo de vida do auto-denominado primeiro mundo… ou então podemos olhar até para as notícias do nosso país e surpreendermo-nos cada dia com políticos, até com os governantes, com terrorismo trazendo bases operacionais ao nosso pequeno Portugal à beira mar plantado… E se quisermos, cada um de nós pode pensar na sua rua, na sua terra, e ver com os seus próprios olhos o que vai acontecendo. Em quem colocamos a nossa esperança? Onde procuramos a nossa segurança? Em quem pomos a nossa confiança? «Maldito o homem que confia no homem, e põe na carne toda a sua esperança» dizia Jeremias, mas «feliz quem põe a sua esperança no Senhor», porque esse é como uma árvore plantada à beira da água, e que estende as suas raízes para a corrente. Por nós, o nosso valor seria imensamente pequeno, mas porque Cristo ressuscitou, também nós seremos capazes de por nele a nossa esperança, não apenas para a vida presente, mas sempre.

No tempo de Jesus, a situação em que vivia aquele povo não era melhor. E Jesus não tinha qualquer poder político nem religioso para a transformar, apenas tinha a força da sua palavra. Que ia espalhando, conforme a leitura de Lucas nos tem vindo a sugerir, a quantos o ouviam. Hoje àqueles que o ouviam Jesus grita claramente que a lógica que corre por aí, não é a lógica de Deus. É preciso aceitar perder para ganhar. Perante a situação daquelas gentes Jesus proclama-os «felizes». Aos que nada têm, eventualmente por verem as suas terras e posses sucumbir diante dos poderosos, diz-lhes que deles é o Reino dos Céus. Perante a fome de tantos homens, mulheres e crianças, embora agora tenham fome e sede Jesus promete que hão-de ser saciados. A quantos choram, porventura com a raiva de não poderem defender o melhor das suas colheitas cujos cobradores de impostos lhe arrancam, Jesus diz que hão-de rir. Não será mais uma brincadeira? Um gozo, ou cinismo? Se Jesus lhes falasse de um palácio talvez. Mas Jesus está com eles. Não leva dinheiro, caminha descalço e não leva duas túnicas. É mais um desses pobres, mas que lhes fala com fé e totalmente convicto. Os pobres entendem-no. Sabem que podem acreditar nas suas palavras. Não são ditosos pela sua pobreza, nem pouco mais ou menos. A sua miséria não é um estado de vida invejável, nem um ideal. São bem-aventurados porque Deus está do seu lado. O seu sofrimento e as suas contrariedades não durarão para sempre. Deus há-de fazer-lhes justiça. Jesus é realista. Sabe que as suas palavras não significam o final imediato da fome, das injustiças, ou de perseguições de todos os que são chamados «pobres». Mas o mundo precisa de saber que esses também são filhos de Deus, que são os seus filhos predilectos, a sua dignidade não é uma utopia, a sua vida é mesmo sagrada. Num mundo injusto, o que Jesus quer deixar bem claro é que os que não interessam a ninguém, esses são os que mais interessam a Deus; os que nós colocamos à margem, são os que ocupam um lugar privilegiado no coração de Deus; a quantos parecem indefesos e orfãos neste mundo, têm-no a Ele como Pai. Nele está a fonte da nossa esperança.

Nós, os que vivemos acomodados na sociedade da abundância, neste primeiro mundo, não temos o direito de pregar a ninguém as bem-aventuranças de Jesus. A nossa tarefa é antes escutá-las e começar a olhar para os pobres, os famintos, os que choram, os que colocamos à margem, como os olha Deus. A partir daí poderá germinar a conversão que o tempo da quaresma, que vamos iniciar, nos sugere, e cada um de nós poderá ser essa árvore plantada à beira da água, cuja folhagem, as nossas obras, não murcha, porque têm a Deus como origem, e mesmo em ano de estio, num mundo onde Cristo parece ter desaparecido, os nossos frutos continuarão a ter o sabor da Sua presença, isto é a dizer que Ele está connosco, que Ele nunca nos abandonou, que a nossa vida é testemunho da Sua esperança, que somos profetas que Ele envia a anunciar o Seu amor por nós.

30 janeiro 2010

Charitas Christi urget nos...

No domingo passado Jesus era-nos apresentado como o Cristo, o ungido por Deus para anunciar a boa nova aos pobres, a libertação aos cativos, para proclamar o tempo favorável do nosso Deus. Esta escolha, como a de cada um de nós, que pelo Baptismo somos sacerdotes, profetas e reis em Jesus Cristo, aconteceu «antes de sermos formados no ventre materno», isto é, desde sempre. É o Senhor quem nos faz anunciar «o que Ele nos ordenar». O profeta por excelência, à imagem do qual somos profetas é o próprio Jesus Cristo, à luz do qual entendemos estas palavras do profeta Jeremias. E como Jeremias, como Jesus, como Paulo, somos enviados a anunciar um caminho de perfeição que ultrapassa tudo. Mas desde logo Jesus nos previne: «nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra». E dá dois exemplos. Elias e Eliseu. O simples facto de recordar acontecimentos passados, para fazer perceber o presente, desperta a fúria dos ouvintes de Jesus. E este Jesus que Deus envia ao Seu Povo, este menino que há pouco contemplava-mos como dom de Deus para nós, é agora homem, que é expulso para fora da cidade. Já tinha nascido fora, mas para que não restassem dúvidas, até da sua própria terra foi expulso. Levado para fora da cidade. Não foi a primeira e não foi a última. Desde já Lucas prefigura qual o desfecho deste caminho que Jesus segue. Será também fora da cidade que há-de ser crucificado e sepultado. Não demorou muito a que Deus fosse rejeitado pelos homens. Se bem que todos se admiravam das suas palavras, todos são novamente os que ficam furiosos. O Profeta, aquele que não se anuncia a si mesmo, mas à Palavra de Deus, não é compreendido imediatamente. E pese embora o seu anúncio de libertação, de salvação, que inicialmente atrai, bem depressa se converte em escândalo para os seus ouvintes. Foi assim com Jesus, Ele próprio nos disse que haveria de ser assim connosco. Porém Jesus não desistiu de anunciar esse caminho de perfeição que ultrapassa tudo. E a nós também nos deve mover a caridade de Cristo. Porque é essa mesma a que dá sentido a tudo o que dizemos e fazemos. Pouco importa falarmos línguas, dos homens ou dos anjos, das coisas da nossa realidade, ou da vida que esperamos, sem caridade. Porque seremos sempre aparentemente robustos, e na realidade ocos, vazios. De nada nos serve anunciar, ou porventura ter grandes conhecimentos, ou até termos fé, porque sem caridade, sem o mesmo amor que Deus nos manifestou em Cristo Jesus, nada somos. Mas essa caridade não é apenas a que brota do exterior, que até nos pode levar a dar tudo o que temos, mesmo anulando quem somos. A nossa caridade tem de ser a de Jesus Cristo: paciente, benigna, alegre com a verdade, pronta a desculpar tudo, a tudo crer, tudo esperar, tudo suportar. Então ela não acabará nunca. E mais ou menos perfeita, à Luz Daquele que é perfeito, todas as imperfeições serão purificadas. E quando Ele quiser também nós conheceremos como somos conhecidos. Antes, porém, temos de tomar consciência de que somos comunidade profética, para anunciarmos como Jesus a Palavra do Pai, servirmos à libertação dos pobres e marginalizados aqui e agora. E então poderemos dizer «vi Aquele que me vê», porque o seu amor bondoso e o seu perdão misericordioso em nós mostraram outro: Jesus. Diante de todos, se assim procedermos, é Deus quem nos coloca: poderão combater contra nós, como fizeram com Jesus, mas não poderão vencer-nos porque Deus está connosco para nos salvar. E esse é um caminho de perfeição que ultrapassa tudo. O amor é a profecia que por excelência temos de anunciar, mais ainda, é a palavra que se faz caminho a seguir. Jesus passou pelo meio deles e seguiu o seu caminho. Hoje de novo passa pelo meio de nós. E nós, estaremos decididos a seguir o Seu caminho?

28 janeiro 2010

Os dias que correm

Procuramos tantas vezes sentido para o que nos acontece que muito provavelmente ficamos muito distantes do que nos acontece. Não vemos oportunidades nas dificuldades que nos aparecem, e muito provavelmente ficamos circundados de montes e colinas que os nossos olhos deixam de contemplar, para ficarem cravados no chão em vez de olharmos para cima, deixando que o azul que está mais alto, fique apenas negro...
Em vez de trabalharmos, ficamos parados na crise. Em vez de arregaçar mangas, acabamos por fielmente aconchegar as últimas camisas que temos passadas a ferro. Em vez de nos alegrarmos por estarmos vivos, lamentamos a passividade com que agarramos os problemas. Tantos e tantos exemplos. Cada um de nós tem os seus. E quem dera que soubessemos encontrar sempre a oportunidade que negamos. Temos sempre a Palavra de Alguém que prometeu estar quando tudo falha, que prometeu libertação, que prometeu ficar connosco, que prometeu receber-nos um dia, que até veio até nós, que continua a vir. Mas quantas vezes olhamos apenas para as palavras?! Por outro lado, era melhor também podermos usá-las para ripostar, gritar, procurar, pensar...
Somos estes seres estranhos, que tão depressa olhamos do fundo do poço, como nos sentimos nas alturas, ou ainda decidimos construir pontes e derrubar muros. Felizmente também somos seres animados pensantes, e de novo conseguimos interrogar a Resposta Daquele que nos vê.

20 janeiro 2010

Uma pausa nos dias que correm... para rezar!

Cristo Ressuscitado,
como caminhaste com os dois que viajavam pela estrada de Emaús,
vem conosco em nossa jornada de fé.
Nos encontros que tivermos pelo caminho,
dá-nos compaixão para ouvir a história do outro,
paciência para explicar o que pode parecer óbvio para nós,
e a coragem para nos tornarmos vulneráveis,
para que outros possam encontrar-te através de nós
e nos possamos redescobrir-te através deles.
Amén.
(Lindsey Sanderson, subsídios da Escócia para a Semana da Unidade dos Cristãos, disponíveis em vatican.va)

06 janeiro 2010

Novo diário (1) Ano novo, a mesma vida

Ano novo, a mesma vida, nova tentativa de escrever este post, sem que o computador vá abaixo… Hoje foi dia de retomar o trabalho. Não porque o tivesse deixado, mas porque estive ocupado com outros trabalhos. Também não foram férias, à parte de não haver aulas para preparar, nem aulas para dar. Fiquei contente por ter terminado um trabalho que comecei em um ano e seis meses atrás. Quem dera já não ter de lhe voltar a tomar o sabor, mas claro, falta o ponto final. Porém nem só de retomas de aulas foi o dia. Antes disso já tinha retomado a estrada, as curvas, os telefonemas durante o caminho, o cumprimento do código da estrada, prudentemente verificado por duas brigadas que me saudaram… Andei pela primeira vez a pé sozinho numa distância mais considerável, cá nas bandas, e senti o frio do tempo, na cara, o calor das pessoas que encontrei, no coração, e o céu a ameaçar neve, que agora se veio revelar zangada connosco, ou mais vulgarmente, que foi comida pelo nevoeiro.

Também foi uma oportunidade para rever o horário e plano de vida. Sim, um verdadeiro documento ‘gráfico’ onde tenho distribuídos tempos, momentos, e formas de andar p’ra frente… Deu-me o riso com alguns dos meus objectivos, e atrevo-me a partilhá-los. O primeiro é o cumprimento diário do horário e plano semanal. Diariamente é suposto seguir uma catrefada de planos, marcações e coisas do género. Para uma ideia mordaz da questão diariamente tenho cerca de 9h atribuídas a um possível sono, 7h30 para trabalho, estudo e coisas afins, 3h de oração litúrgica e pessoal, e 4h30m para refeições, higiene e tempo livre… ainda estou para fazer o gráfico! Sim, o rapaz é afinado. Não fosse o segundo propósito/compromisso que quero partilhar convosco: esquecer o horário e compromissos um dia, uma vez por semana. Realmente, tanto trabalho, tanta planificação para no fim de contas chegarmos a isto. Não estou a brincar nem convosco, nem comigo. Explico: não posso deixar que um pedaço de papel, ou meia dúzia de folhas controlem a minha vida. Não sou escravo da planificação. E antes que lhe prometa fidelidade inviolável, vale mais deixar já claro que há um ponto de fuga. Só uma vez por semana. Outra vez por semana quero desligar-me do telemóvel e outros meios de comunicação afins, tipo, vulgo, internet. E depois a seguir queixar-me e ouvir as queixas dos meus amigos e amigas que dizem: mas olha lá, ainda és vivo? ‘tás mesmo no fim do mundo, nem o telemóvel atendes!!! Para que te mando eu mail’s? ou esta mais engraçada: quando precisares depois eu cá estou! Mudando de ritmo, uma vez por mês, quero fazer um passeio. Sem mais nada, sem nenhum objectivo concreto, ao sabor do tempo e das rodas do carro. Estejam atentos à estrada, quem sabe não apareço diante de vós, ou desviem-se, quem sabe não tenho tempo de travar!!! Esta é mesmo de rir, mas quero cumpri-la a sério, como pessoa séria e empenhada no meu bem-estar: uma manhã de desporto por semana… Depois há os propósitos de leitura e escrita. Ao menos um livro por mês e andar sempre com um caderno para alimentar as linhas de poesia que de vez em quando me lembro. Tantas vezes hei-de lançar olhares em verso, que certo dia algum há-de ser perfeito. Também quero actualizar mais vezes este blog, no mínimo duas vezes por mês.

Até parecia mal se não falasse do acontecimento que hoje marca o dia. Cá no sítio, idosos e crianças vieram encontrar-se com o menino Jesus no presépio. Como nesse tal acontecimento, estes reis trouxeram-lhe presentes. Até se ouviu um balido inocente de um cordeiro negro ao colo de um actuante pastor. E Jesus voltou de novo a manifestar-se a todos os povos como a Salvação de Deus. Já pela manhã tinha dito a pequenos e não tão pequenos quais eram os presentes que os do Oriente tinham ofertado ao menino Jesus. Ouro, incenso e mirra. E expliquei: hoje cabe-nos a nós oferecer-Lhe a mirra de sermos verdadeiras imagens de Deus, homens e mulheres criados como Ele nos quis (por vezes custa tanto aceitar isto, e vê-se cada coisa…); o nosso incenso é sermos capazes de ouvir Deus que nos quer falar, e falarmos com Ele, aquilo a que chamamos oração; e o ouro… esse teve várias tentativas de definição, mas eu sugiro uma própria: oferecermos-lhe a nossa vontade, afinal é essa mesmo que Deus precisa para fazer em nós maravilhas.

Resta dormir e esperar que amanhã seja outro dia assim: frio, quente, nevoeiro, luz, sombras, planos, viagens, conversas, aulas, reis, negros cordeiros, ouro, incenso e mirra. Amén.