Mais vezes do que aquelas que pensamos os que nos dizemos cristãos vivemos de forma ateia. Dizemos acreditar em Deus, mas perante momentos como os que vivemos, na Igreja e em sociedade, vivemos como se Deus não existisse. Perante a crise religiosa actual, e diante de um “futuro incerto” para a própria Igreja, respondemos verdadeiramente como ateus. Celebramos a liberdade, mas procuramos pouco os caminhos da verdadeira Liberdade!
Não sabemos caminhar «na presença de Deus». Olhamos para as nossas crises e planificamos os nossos trabalhos contando apenas connosco mesmos. Esquecemo-nos que o mundo está nas mãos de Deus, não nas nossas. E que o Bom Pastor, que cuida e guia a vida de cada ser humano, é Deus.
Vivemos porventura como órfãos, como se tivéssemos perdido o nosso Pai. A crise supera-nos. O que nos é pedido parece ser demais. Não há quem tenha ânimo perante uma tarefa cujo êxito não se vê aproximar por lado nenhum. Sentimo-nos sós, e cada um defende-se como pode.
No Evangelho deste domingo Jesus está em Jerusalém, talvez durante o inverno, comunicando a Sua mensagem. Para não arrefecer caminha num dos pórticos do templo, rodeado pelos judeus, que lhe fazem perguntas. Está a falar das ovelhas que escutam a Sua voz e O seguem. A dada altura afirma claramente: «o Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos, e ninguém pode tirar nada da mão do Pai». De acordo com as palavras de Jesus, Deus é maior do que todos. Então, que nós estejamos em crise, não quer dizer que Deus esteja em crise. Que os cristãos percam ânimo, não significa que Deus tenha perdido a força para nos salvar. Que nos faltem palavras ou a maneira de falar com os homens e as mulheres do nosso tempo, não quer dizer que Deus não tenha já encontrado caminhos para falar ao coração de cada pessoa. Que porventura as pessoas abandonem as nossas igrejas, não é sinónimo de que não estejam na mão do Pai.
Deus é Deus. Nenhuma crise religiosa, nenhuma mediocridade, de dentro ou de fora da Igreja, poderá arrebatar das mãos do Pai, esses filhos e filhas que Ele ama com um amor infinito. Deus não abandona ninguém. É Bom Pastor, em Jesus Cristo. Tem os seus caminhos para cuidar e guiar, para pastorear, cada uma das suas ovelhas, cada um dos seus filhos e filhas, caminhos que não são necessariamente os que nós pretendemos traças.
A vocação de todo o ser humano é à vida eterna. E passa por caminhos diversos, sejam de consagração na Igreja, para serviço dos irmãos, sejam numa comunhão íntima de vida, ou até individualmente. O Senhor da messe e pastor do rebanho continua a guiar-nos através dos pastores que Ele escolhe, e que encontram Nele, único Bom Pastor, a imagem à qual hão-de ser pastores. Nesta semana de oração pelas vocações, em ano sacerdotal, estamos convencidos que o testemunho suscita vocações, e que se olharmos à nossa volta há mais gente como nós. Quiséramos seguir sempre esse único Bom Pastor, e ser pastores e ovelhas do seu rebanho, confiados que a Ele ninguém nos poderá arrebatar, que nas Suas mãos de Pai está a segurança que procuramos, Ele que é maior que todos, segundo a palavra de Jesus.
Estaremos nós realmente convencidos de que somos o Seu Povo, as ovelhas do Seu Rebanho? Ocorre-me dizer, somos seres animados pensantes!
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