Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

01 dezembro 2010

Independência

O domínio dos outros em nós irrita-nos. Gostamos de ter o controlo de tudo o que se passa. Sobretudo do que a nós diz respeito. Parece que não devemos a ninguém o leme da nossa vida, que vai seguindo, fustigada pelas ondas, levada por ventos, enfim… mas ninguém parece ter legitimidade para a dirigir. Os estrangeiros sobretudo. Os estranhos ao nosso círculo também. Claro que curiosamente a vida segue o seu rumo, onde nós por vezes até nos sentimos espectadores, incapazes de viver, ou preferindo ficar sentados a ver o filme que parece ter sido realizado por outros, e onde nem sequer o papel de actores nos deixam. E segue de tal forma, que quando nos decidimos a tomar-lhe as rédeas, a sentir nós mesmos esse ritmo galopante, vamos percebendo que a verdadeira independência está mais em estar com os outros do que sozinhos, em precisar dos outros do que sermos autónomos. Para os que temos fé, mais ou menos periclitante, isto tem um nome: esvaziarmo-nos de nós próprios para darmos lugar a Deus. Para quem possa não ter fé o desafio mantém-se. Pode não ser para dar lugar a Deus, porque não O reconhecem assim, mas será sem dúvida para dar lugar aos outros. A aceitar em qualquer dos casos que, efectivamente, não temos a última palavra, que a nossa independência só o será se verdadeiramente formos capazes de nos libertar dessa forma aparente de independência que se chama egoísmo. Porque não temos de facto. Temos em nós mesmos inscrita uma profunda necessidade de relacionamento com os outros. Somos mais as perguntas que fazemos do que as respostas que damos, mas tal só acontece e só pode acontecer porque à luz do que está fora e para além de nós, continuamos essa jornada que outros já começaram, lá longe, nos alvores da humanidade, em que nos descobrimos seres animados pensantes… A verdadeira independência descobre-se quando nos sentimos dependentes dos outros. Nisto como em muitas outras coisas, damo-nos conta: é nestas contradições que descobrimos a nossa verdadeira identidade. Deus criou-nos para sermos independentes, mas não para sermos egoístas, não nos criou para sermos sozinhos, mas para sermos em relação com os outros. Hoje a independência que nos dá o feriado, deveria ser ocasião para nos interrogarmos, até no palco nacional e internacional, se estivéssemos sozinhos, onde é que já teríamos ido parar? Na nossa vida, se não fossem os que nos rodeiam, onde é que estaríamos? Homens e mulheres de fé, se não estivéssemos na mão de Deus, onde é que chegaríamos?

Vale a pena querer ser independente, sim. De tudo o que nos impede de sermos homens e mulheres capazes de amar os que Deus coloca no nosso caminho para amarmos, de tudo o que nos impede de O reconhecer em permanente advento à nossa vida, para gritar aos nossos ouvidos: EU SOU a tua verdadeira independência!!!