Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

03 dezembro 2009

Louco?! [2]

Andei a revisitar os textos do meu blog, e apesar de outros textos mais próprios de advento, sabe bem reler este. A mim soube. Porque só um Deus enlouquecido de Amor pelo Homem pode continuar a vir ao seu encontro. Porque só um ser humano que enlouqueça de amor por Deus pode deixar-se ir ao seu encontro sem temer o quando. Em 7 de Maio de 2007 dizia assim um post:

«...Vácuo imóvel e mudo! Necessidade fria e eterna! Destino louco! Que sós estão na ampla necrópole do universo. E eu também estou só, só comigo mesmo. Ó Pai, onde está o teu peito infinito para poder reclinar-me nele?...» (o Homem louco - texto adapt. de Jean Paul, filósofo ateu francês - Excerto do Teatro "Deus Morreu?!", apresentado pelo S M G)

Por vezes a personagem que encarnei sou eu mesmo, em cada dia. Também tenho dias em que me sinto só. Só, comigo mesmo. Só, no meio do mundo. Só, na presença de Deus. Mas só. Que raio de vida. De facto, que destino - entenda-se vida - louco! Quanto de só, de vácuo, de imóvel e mudo tem por vezes o meu interior. Quisera tantas vezes dar largas a todo o turbilhão de sentimentos que pululam bem dentro de mim. Mas não. Calo e não digo. Penso mas não faço. Engulo mas não deixo transparecer. Pergunto-me tantas vezes se Seguir Cristo também é isto.

Não olho para tudo como uma ampla necrópole, tudo à espera de uma purificação pela morte, e num momento futuro é que tudo há-de ganhar sentido. Deus há-de ser tudo em todos, sim. Mas a criação é obra Sua. E não creio que esta seja uma imensa cidade de mortos, onde as diversas cores deixam adivinhar a alegria do que é estar ainda do lado de cá. Mas porque há-de ser tudo assim? Porque não havemos de poder dizer tudo quanto nos vai na alma? Diz o salmista, "agora porém gritarei como aquela que dá à luz, desafogarei todo o meu ardor". e GRITO. E gritarei. Não sei se seguir Cristo é também isto. De certo é abandonar-se à Sua vontade e acreditar que nenhuma dificuldade é maior do que Ele. Quando nos sentimos sós, e comigo muitas vezes felizmente acontece, depois de algum modo Ele (Se) me faz sentir bem perto.

Louco?! Sim, bastante pois não é fácil que muitos vejam sensatez na adesão a Alguém que deu tudo sem esperar nada em troca, e que quer que façamos o mesmo. Não seremos salvos de certeza pela grandeza dos nossos méritos, mas pelo Amor infinito e omnipotente que Deus nos manifestou no Seu Filho. Louco Ele, insensato aos olhos do mundo. Mas não encontrou Ele descanso no peito infinito do Pai? Não foi Ele ressuscitado como Aquele a quem o Pai disse "o meu amor por ti quer dizer Tu-não-morrerás" (G. Marcel)?!

Sabe bem ser louco, insensato aos olhos do mundo. Perder comigo mesmo o sentido das coisas. É uma necessidade fria, e eterna enquanto houver humanidade, esta de procurar um sentido. Mas é quando o perco que logo aí me consigo voltar a encontrar... Há males que vêm por bem.

O dia termina. Amanhã levantar-se-á o Sol da Justiça. Termino com uma prece. Permite-me ó Pai, encontrar o teu peito infinito para poder reclinar nele a minha cabeça e encontrar em Teus braços a força que hoje me falta.