Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

22 setembro 2007

Há coisas do outro mundo...

«Como podes ter a certeza do que queres fazer? Sim, como podes tomar uma decisão que afecte desta forma a tua vida, numa idade ainda jovem?!» Nos últimos dias tive alguns diálogos com pessoas diferentes que começaram, ou a dada altura se encontraram nestas mesmas inquietações. Chegam também notícias de profissões monásticas... Como podemos estar certos de que não nos enganamos?
Ao longo da nossa vida as nossas decisões reflectem-se. Com umas perdemos e com outras ganhamos, para usar uma linguagem do lucro. Ocorre-me a pergunta retórica de Jesus: "De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder tudo?"... Ou ainda um outro pensamento de alguém, que não muitos tiveram ocasião de escutar, mas que se expremia da seguinte forma: "Tudo é efemero e passageiro. A nossa fé pelo contrário é uma espécie de seguro que fazemos para o outro mundo" e prosseguia, mas o que queria relembrar está contido nestas palavras.
À luz da fé decisões insensatas aos olhos de muitos, ganham sentido, pois o que parece louco e insensato aos olhos do mundo é que Deus escolheu para confundir a sabedoria, chamando o que nada vale a seus olhos, mas que aos Seus olhos há-de ser instrumento de amor. Mas atrevo-me a colocar outra hipótese: mesmo sem fé estas decisões são assim tão insensatas?! Já não somos livres de fazer escolhas duradouras quanto a nossa vida o permite?
De facto na sociedade actual ninguém se compromete com nada por muito tempo. É só pelo tempo que nos convier. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas ao passo que Ele se compromete connosco desde o ventre materno, para nos chamar a todos à salvação, nós arranjamos desculpas para não nos comprometermos. O futuro é incerto. Emprego e família são tantas vezes uma dicotomia que poucos conseguem harmonizar. Talvez por isso quando aparece alguém que se decide pelo celibato, respondendo ao Apelo, e que como modo de vida se consagra ao serviço do Reino, isso pareça uma coisa do outro mundo. Do outro mundo, de facto é, mas toda a vocação do ser humano é isso mesmo, uma vocação a um outro mundo.
Quem dera que nos nossos corações, de homens e mulheres, verdadeiramente deste tempo, nascesse a disponibilidade para compromissos eternos à imagem e semelhança do próprio Deus. E ainda que esse caminho humanamente entendido pudesse falhar, há algo que vem de Deus e não falha: a nossa vocação comum à felicidade, à santidade, à comunhão eterna com Deus...
Qualquer que seja o caminho a seguir, pode ser que mais tarde ou mais cedo nele venham a aparecer dificuldades, mesmo tantas e tais que obriguem a que esse caminho seja alterado, mas importa saber em Quem colocamos a nossa confiança. E aí sim, ao contrário de tudo aquilo que é mundano e passageiro, Ele não falha. Nunca.
Mas a propósito vem a advertência do Evangelho: quem não é fiel no pouco também o não é no muito.

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