Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

18 novembro 2008

O pobre da rua, ou eu nos meus dias

Não tinha ninguém,
aquele pobre na rua
que pensava ser sua,
não tinha ninguém.

Acordava com o sol
que lhe iluminava o rosto
e lhe aquecia as mãos,
não tinha ninguém.

Comia se lhe davam,
fruto de uma tal caridade,
que diminuia com a idade,
não tinha ninguém.

Vagueava nessa rua,
pois não tinha mais nada,
mas ela não estava fechada,
não tinha ninguém.

Passavam por ele e não olhavam,
e, desviando a cara, negavam
a solitária cruz no seu calvário.
Não tinha ninguém.

E, dia após dia, foi ficando
fazendo parte daquela rua
a única que era sua.
Não tinha ninguém.

E também o Calvário era seu
como noutrora a solitária cruz
de um certo desconhecido Jesus.
Não tinha ninguém.

Até que, um dia, morreu,
mas a ruanão foi ao seu funeral;
a sua presença era habitual, mas banal.
Não tinha ninguém.

Aquele pobre desapareceu,
e ninguém se apercebeu,
a não ser Aquele Deus nascido em Belém:
afinal sempre teve Alguém.

28/10/2008

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