Começamos a existir Naquele Sonho que faz realidade todos os outros, derramando o Seu amor, através do amor de dois seres humanos, e, no milagre da vida, descobri-mo-nos capazes de pensar, de amar, de chorar, mas também de sorrir. Misturando este sonho, agitado pela vida, assim pensamos... e do pensar a letra se faz, e da Palavra se recomeça de novo, como na Origem.

18 dezembro 2011

Eu é que vou dar-te uma casa, diz Deus! ou NATAL


David preocupava-se em construir uma casa para Deus. Não podia ser ele viver numa casa de cedro, e Deus numa tenda. Porém Deus, o Habitante das nossas vidas, diz-lhe que é Ele quem lhe vai construir uma casa. Claro que é conhecida a história. Foi Salomão quem concretizou o sonho de David. Mas a liturgia, na proximidade do Natal, quer colocar diante de nós um outro problema, para lá deste. Atrevo-me mesmo a dizer que a história da salvação é lida à luz de um novo paradigma. Senão repare-se. Estamos em advento permanente. Deus veio, vem e virá. Disso já estaremos convencidos, e em gozosa esperança, após a alegre celebração do domingo passado. E este advento, uma vez mais colocado no calendário, recordou esta condição constante na vida do cristão. Porém, para que seja Natal, de novo as casas podem estar cheias, e não restar em cada belém senão o pobre estábulo. Escandalizados com semelhante atitude de um Deus que aceita nascer nada mais, nada menos, que no curral dos animais, talvez estejamos preocupados com a nossa representação desse presépio no hoje. E inventamos maneiras. Com musgos, palha, tecidos, tijolos, latas ou até só com imagens. Presépios desenhados, presépios construídos, presépios imaginados. Vários. Em cores, a preto, tamanho grande, pequeno ou reduzido. Esculpidos, tricotados, feitos ao vivo, filmados, on-line, ou na igreja. Em casa, nas ruas, com luzes ou às escuras. Expostos nas maiores igrejas, ou até discretamente ignorados. Por causa de concursos, ou porque, como David, queremos construir a melhor casa para o Senhor. Também porque temos de ir às nossas terras de origem, ou porque uma ordem superior nos impede de estarmos onde queríamos, o Natal vai ser provavelmente a correr. Inesperado. Cumpriu-se o tempo. É hora. De novo cantam os anjos nos ares: Glória a Deus e paz na terra. Até a mãe pergunta como poderá ser isso. Porém com ela tudo muda de figura. É capaz de dizer sim. E nela, cumpre-se a promessa a David, e Deus faz-se carne. E é Natal. Para lá dos projetos humanos. Apesar da pressa, da correria, das compras, da crise. Da nossa vontade. E de não sabermos como é possível. A um homem que quer construir uma casa para Deus, dá-se Deus, em casa, fazendo-se Ele a casa, a terra prometida, a descendência numerosa. Eis o Deus forte, o indefeso Menino, o expulso da cidade, o Humano feito Deus, Deus no meio dos animais. Porque os homens, esses, nem todos tiveram o sonho de David, nem todos se escandalizam de Deus morar na tenda, de estar no curral, porque estamos tão cheios que não temos lugar para Deus.  
O presépio que Deus quer esse tantas vezes não lho damos. Também queremos dar-lhe outros lugares. Pelo menos tão dignos como o nosso. Ou piedosas representações de um acontecimento que parece conto de fadas, gata borralheira de um povo bíblico, sorte dos pobres que tiveram a pouca sorte de deixar de ser da realeza, descendência de um rei, humilhada pela ocupação de estrangeiros. Até Maria já nem pode ser grande porque hoje ser mãe, mesmo solteira,  parece um capricho e não um milagre, mesmo sem fé. Neste mundo em que o coração não é senão lugar de paixões, que tantas vezes nos subjugam, parece que decerto não é esse o lugar que temos para dar a Deus. Quem sabe... nem é esse que o lugar que Deus quer! Vale que Ele é o lugar, é a casa, é a promessa e o seu cumprimento. E Ele vem, nasce na nossa vida. E isto é o Natal. Agora, hoje, em cada tempo, no dia 25, e em todos os tempos. Foi assim que um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado. Para todos, mesmo para os que não O acolhem. 
Mais do que fazer outro presépio, ou arrumar outra casa, é na TUA VIDA, na minha, que Ele quer entrar. Que lhe saibamos abrir a porta, e assim seja Natal. Feliz, solidário, verdadeiro, comemorativo, em família, em partilha, no coração.

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